Fernão Mendes Pinto foi um português que, como milhares de outros compatriotas do século XVI mercantil e imperialista, embarcara para o Oriente a fim de obter fortuna. Depois de ter percorrido distantes terras, conhecido outras culturas e outros povos, regressa a Lisboa, a 22 de Setembro de 1558. Quatro anos depois, foi viver para o Termo de Almada. Casou com Maria Correia de Brito trinta anos mais nova.
Por esta altura, vivia-se uma época fértil em acontecimentos de ordem política, religiosa e cultural. Decorria o 3º. período do Concílio de Trento, em que participaram Frei Francisco Foreiro (fundador do Convento de S. Paulo em Almada, em 1569), e ainda o teólogo Diogo de Paiva de Andrada.
Na última fase da sua vida - Vinte e um anos que decorreram entre 1562 e 1583, no sítio do Pragal - Fernão Mendes Pinto tornou-se proprietário de uma quinta em Palença, com casa de habitação, courelas de vinha e de semeadura
Fernão Mendes Pinto convive, entretanto, na Vila de Almada, com Francisco de Sousa Tavares, Bernardo Carvalho, João Lobo, Francisco de Andrada, (cronista-mor do reino e poeta), todos provedores da Misericórdia de Almada, e outras figuras que prestaram serviço no Oriente, então residentes na Outra Banda.
Por volta dos anos de 1569-70, Fernão Mendes Pinto começa a escrever as aventuras vividas e imaginárias na sua "Peregrinação", um livro de memórias sobre "Coisas que viu", uma das mais impressionantes obras de " cultura portuguesa quinhentista."
Vivia-se uma época, em que, quer ao nível do indivíduo, quer do Estado, as Índias constituíam um meio de enriquecimento. Na sua casa recebe diversas individualidades ilustradas, que procuravam obter informações sobre a China , o Japão e outras terras do Oriente. Recebeu, entre 1569 e 1571, a visita de Bernardo Nerí, embaixador de Cosme I Médicis, grão-duque da Toscana.
A partir dos princípios da década de 1570, Fernão Mendes Pinto é uma figura pública no círculo dos juízes, vereadores e outros oficiais da Câmara, uma pessoa socialmente integrada nos meios da nobreza e da Governança local. Foi um dos juízes da vila, pelo menos em 1572 e 1577, "cargo exigido na época para ser eleito mamposteiro da Gafaria de S. Lázaro e da Albergaria de Santa Maria de Almada", então integrados na confraria da Misericórdia de Almada". Na qualidade de mamposteiro, Fernão Mendes Pinto tinha a seu cargo a arrecadação dos foros devidos às Albergarias, recebendo os estipêndios então definidos. Cabia-lhe a ele também, juntamente com o escrivão e os juízes, aforar em praça pública os bens da instituição e executar as despesas dos hospitais por mandado dos juízes e vereadores.
Em 1573, na "mesa do despacho da casa da Misericórdia desta vila de Almada", perante a presença do provedor Bernardo Carvalho, fidalgo da casa real, de António Grizante, escrivão da Câmara e também candidato concorrente a mamposteiro, de Pedro Vilela, escrivão da Câmara e de outros irmãos da Misericórdia, é eleito "mamposteiro do hospital de S. Lázaro anexo a esta casa e também serviria pela mesma maneira de mamposteiro de Nossa Senhora, e tudo aceitou e de todas as rendas" A segunda eleição para o mesmo cargo ocorreu em 1578, na provedoria de João Lobo.
Curiosamente, foi entre os anos de 1569 e 1578 que escreveu a sua "Peregrinação". Neste último ano, dava-se o já referido desastre de "Alcácer Quibir", onde morreu D. João de Portugal, (provedor da Misericórdia de Almada, nos anos 1571-1572 e 1576-77; João Tavares de Sousa (provedor 1570-71, e Cristovão de Távora, filho de Lourenço Pires de Távora, (fundador do Convento dos Capuchos, da Caparica).
Nesta batalha, que contribuiu para a perda da independência, foi feito prisioneiro o grande escritor místico Frei Tomé de Jesus, irmão de Francisco de Andrada (também provedor) e de Diogo de Paiva de Andrada.
Após as cortes de Tomar, em Abrilde 1581, e entre Junho deste ano e Fevereiro de 1583 - a fazer fé em Francisco de Herrera Maldonado, o tradutor da Peregrinação em castelhano - D. Filipe II (agora também D. Filipe I de Portugal) ter-se-á encontrado com Fernão Mendes Pinto
D. Filipe passava " muchos ratos cõ oirle, dando tanto crédito a sus verdades, como era buen testigo el tiempo que gostava em saberlas", explicitando o cónego Herrera que as histórias "las que van esta História (A Peregrinação), que son las mismas que su Magestade tan gratamente oía". E decerto que tal convivência entre ambos não será alheia à concessão da tença anual de dois moios de trigo (qualquer coisa como mil e seiscentos litros) que lhe foi atribuído por D. Filipe, em 15 de Janeiro de 1583, pouco antes do regresso do rei a Castela".
Fernão Mendes Pinto faleceu a 8 de Julho de 1583. A Peregrinação, escrita em Palença, do Termo de Almada, doada a Casa Pia das Penitentes Recolhidas de Lisboa, foi publicada em 1614, por intermédio do Livreiro Belchior de Faria.
Uma grande obra da época dos Descobrimentos onde Fernão Mendes Pinto, deixou exaradas as suas aventuras, desventuras, memórias, críticas, ficções... Um livro que continua a suscitar aturados estudos em Portugal e no estrangeiro.
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Fernão Mendes Pinto (1510-1583), nasceu em Montemór- o - Velho, na Beira Litoral. Este espantoso escritor e viajante do século XVI, o maior depois de Marco Paulo, é o autor de um dos maiores livros da história de todas as literaturas - Peregrinação - Viajante insatisfeito, homem com sete fôlegos, andou vinte anos pela Índia e pelo Oriente, conhecendo toda a rota da fortuna e do azar, senhor e escravo, pirata e embaixador, mercador e guerreiro, descobridor de terras e até missionário. Segundo ele escreveu, mais tarde, foi 13 vezes cativo e 17 vendido. Não houve terras e mares do cabo do mundo por onde ele não andasse; Abissínia, Arábia, Malaca, Sumatra, Java, Pegu, Sião, China e o Japão ignorado, a "Pestana do Mundo", onde ele introduziu a espingarda, coisa que essa gente jamais havia visto. Foi também companheiro do espanhol S. Francisco Xavier. E, depois desta longa e trabalhosíssima peregrinação, volta ao Reino, demora-se quatro anos em Lisboa, acabando por se recolher em Almada.
O investigador almadense, José Carlos de Melo, descobriu este curioso documento nos arquivos da Misericórdia de Almada, onde o grande escritor foi provedor.
Fernão Mendes Pinto
Finou-se em 8 de Julho de 1583 no Pragal, termo da Villa, em casa sua, foi sepultado na Igreja de S. Tiago, em Almada, na capela devotada a Nossa Senhora da Conceição, muito perto do altar. O corpo foi amortalhado com o hábito de S. Francisco e teve missa quando desceu à sepultura. Deixou legado à capela para cuidar da sepultura e missa no dia "aniversário da morte". O filho ordenou cumprimento "vontade do pai e desejo ter sepultura na mesma capela". "Na chancelaria de Filipe II foi encontrada uma carta, datada de 15 de Janeiro de 1583, em que aquele monarca fez a Fernão Mendes Pinto, a mercê de dous moyos de trigo de tença cada ano em dias de sua vyda, os quaes lhe serão paguos no allmoxarifado da villa de Allamada, atendendo aos serviços que prestara nas partes da Índia.-----00000-----